Existem vários tipos de riso: gargalhada descontrolada, risadinha de vergonha, sorriso amarelo e risada forçada para fingir que a piada do sogro foi engraçada.
Nas mensagens de texto, tem gente que ri com “hahahaha” ou “ihihihi”. Confesso que não respeito muito quem usa “kkkk”, mas é uma opinião minha.
Por que estou falando sobre isso?
Porque o blog da São Camilo me convidou, representando o Narizes de Plantão, para publicar aqui um texto conectado ao dia do riso. E esse convite me trouxe 3 reflexões diferentes.
A primeira tem a ver com missão
Contudo, o convite me foi enviado por email no dia 12 de janeiro, seis dias antes do dia do riso, que é dia 18. Mas eu só fui ver o email no dia 23! Ou seja, quando vi, já tinha passado a data!
Mas como isso foi acontecer? Vou explicar.
Eu estava de férias e prometi a mim mesmo que não olharia meu email. Pode parecer algo trivial para você, mas para mim não é. Sou um tanto workaholic, faço vários projetos ao mesmo tempo e sempre quero resolver as demandas que aparecem. Só que eu preciso aprender a descansar também.
Isso tem muito a ver com a missão do Narizes de Plantão, que é o projeto de extensão da São Camilo que usa a linguagem do palhaço para que os futuros profissionais da saúde aprendam coisas que a faculdade não tem tanto tempo de ensinar. No Narizes, dizemos que “a gente cuida da gente para cuidar de gente”.
Portanto, entendemos que acolhimento, treinamento e atenção são maneiras que encontramos para cuidar dos participantes do projeto, que, por sua vez, cuidarão de seus pacientes no futuro. A gente cuida da gente, para cuidar de gente.
Então o que eu fiz nas férias? Cuidei de mim. Viajei um pouco, joguei squash, terminei o jogo God of War… e não vi meus emails. Com muito orgulho!
A segunda tem a ver com leveza
O palhaço, que normalmente está associado com o riso (embora seja uma figura bem mais complexa), me ensinou a levar a vida com mais leveza. Ele me ensinou que grandes preciosidades podem nascer do que normalmente consideramos um “erro”. O palhaço me ensinou que quando rimos de nós mesmos, tudo fica um pouquinho mais fácil. Até porque provavelmente as outras pessoas vão rir junto e isso é uma delícia.
Este próprio texto que você está lendo é uma manifestação do meu ato de rir de mim mesmo e do meu próprio atraso em escrever para o blog.
É um texto sobre o dia do riso, que está sendo publicado vários dias depois da data. Que coisa ridícula, não? O Mauro de anos atrás acharia isso péssimo e provavelmente se culparia por não ter cumprido o cronograma. Mas eu, hoje, entendo que não existem erros, mas, sim, acontecimentos.
E se não fosse todo esse atraso, este texto não existiria do jeitinho que está sendo escrito. E, sinceramente, estou curtindo bastante escrevê-lo.
A terceira tem a ver com ciência
Além de palhaço, eu também sou cientista, então sempre me interessou saber sobre os impactos que visitas de palhaço têm sobre pessoas internadas em hospitais.
Por muito tempo não havia rigorosos estudos científicos sobre o assunto, sabia? Apenas algumas pesquisas rudimentares e sugestões baseadas no bom senso. Mas de uns anos para cá, a quantidade de bons artigos científicos que mediram – cada um do seu jeito – a influência dos palhaços nos hospitais aumentou bastante. Que ótimo!
Se você se interessa pelo assunto, pode gostar de ler o artigo publicado por autores brasileiros e canadenses, que analisou pesquisas anteriores, para dar ao leitor uma ideia do cenário atual do conhecimento sobre a participação de palhaços no hospital. Nós chamamos esse tipo de artigo de uma revisão sistemática.
Nessa revisão, os autores perceberam que a grande maioria dos estudos já realizados pelo mundo mostra um benefício da presença de palhaços nos hospitais, em especial na redução de dor e ansiedade de crianças hospitalizadas. Legal, né?
Para terminar, vou deixar três recomendações para você:
1. Não precisa esperar o dia 18 de janeiro para dar risada, tá?
2. Ria mais de si mesmo, vale a pena.
3. Pare de usar “kkk”. Não pega bem.
Mauro Fantini
Professor do Centro Universitário São Camilo e coordenador do Projeto de Extensão Narizes de Plantão.
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